Junio Barreto retoma território na exuberante aridez instrumental do álbum autoral ‘O sol e o sal do suor’

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Vinte anos após o primeiro disco, artista pernambucano se confirma bom compositor com safra valorizada pela produção musical do guitarrista Rovilson Pascoal. Junio Barreto apresenta o terceiro álbum da discografia, ‘O sol e o sal do suor’, 13 anos após o antecessor ‘Setembro’, lançado em 2011
Hugo Sá / Divulgação
Capa do álbum ‘O sol e o sal do suor’, de Junio Barreto
Hugo Sá com arte de Márcio Villar
Resenha de álbum
Título: O sol e o sal do suor
Artista: Junio Barreto
Edição: Samba Rock Discos / Altafonte
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ “Sou da América, do Nordeste oriental”, se situa Junio Barreto, enfatizando o verso que inspirou o título de Nordeste oriental, uma das 10 músicas de O sol e o sal do suor, terceiro álbum do artista nascido em Caruaru (PE), no sertão agreste do estado de Pernambuco, e radicado na cidade de São Paulo (SP).
Vinte anos após ter debutado com um primeiro álbum, Junio Barreto (2004), que causou sensação e certo mal-estar quando duas grandes cantoras decidiram gravar a mesma música, Santana, rebobinada em 2005 nas vozes de Gal Costa (1945 – 2022) e Maria Rita, Junio Barreto reaparece com vigor em O sol e o sal do suor, álbum autoral que o confirma como um dos bons compositores da safra pernambucana do século XXI.
Treze anos se passaram desde que o artista lançou o segundo álbum, Setembro, em 2011. De lá para cá, o hype em torno de Junio se diluiu, ainda que Gal tenha apresentado duas músicas então inéditas do compositor no álbum Estratosférica (2015), Jabitacá (Junio Barreto, Bactéria e Lira) e a canção-título Estratosférica (Céu, Pupillo e Junior Barreto).
O álbum Estratosférica foi gravado por Gal sob a direção artística do mesmo Marcus Preto que ora assina a produção do álbum O sol e o sal do suor com o guitarrista Rovilson Pascoal.
Junio Barreto reaparece com disco solar em que apresenta algumas grandes músicas, com destaque absoluto para o baião Vida, vida, vida, vida – que abre o disco dando a pista certeira do tom solar e celebrativo (do amor e da própria vida) que norteia a atual safra autoral do compositor – e para Concórdia do coração, balada que encerra o álbum, composta pelo artista em tempo lento para atender (inteligente) pedido de Marcus Preto.
Concórdia do coração é canção que tem tudo para ser amplificada em vozes de maior alcance. Por ora, a música do álbum O sol e o sal do suor que ganhou a voz de grande cantora é o baião Ata-me, gravada por Alaíde Costa para ainda inédito álbum previsto para ser lançado em 31 de maio.
Na boa gravação do autor, Ata-me tem levada aliciante que evidencia a excelência da arquitetura instrumental do disco, construída por músicos do naipe de Thomas Harres (bateria e programações), Chicão (piano), Pupillo (bateria), Fábio Sá (baixo e sintetizador), Gui Calzavara (trompete) e Mestre Nico (percussões), sem falar em Rovilson Pascoal, gigante da guitarra e da produção musical que merece ser celebrado à altura do talento.
O requinte dos arranjos do álbum O sol e o sal do suor engrandece músicas como Mamãe quer meu amor, Tu deixa de ser isso não, Estrela do norte – esta iluminada por passagem instrumental de quase dos minutos – e Só no amor existimos.
A timbragem da banda se afina com o canto árido, rústico, de Junio Barreto, que, no único momento fora do trilho autoral do disco, faz Coração preto (Beto Viana e Nana Carneiro da Cunha) bater com ecos do brega pernambucano e toques de pisadinha, subgênero do forró que conquistou o Brasil nos presentes anos 2020. Recrutada para a faixa, a instrumentista baiana Michelle Abu toca bateria e percussões no universo pretendido pelo artista e pelos produtores do disco. O arranjo ficou irretocável.
Aliás, todos os arranjos são exuberantes. Basta ouvir Feixes para constatar que a moldura instrumental dessa faixa – formatada com bateria, programação e efeitos de Samuel Fraga; baixos e sintetizador de Marcelo Cabral e a guitarra de Rovilson Pascoal – engrandece a música e poderia estar nos melhores discos da Nação Zumbi, banda que, há 30 anos, ajudou a reinserir Pernambuco no mapa musical do Brasil a reboque do movimento Mangue Beat.
Cada vez mais forte, o estado nordestino continua falando para o mundo e tem projetado nomes como Almério e Martins em escala nacional. Com O sol e o sal do suor, é a vez de Junio Barreto voltar a marcar território nesse movimento, afirmando com orgulho ser da América, especificamente do Nordeste oriental.

Fonte: G1 Entretenimento