Olimpíadas de Tóquio: veja 5 grandes eventos esportivos afetados por outras epidemias

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Zika, gripe, meningite e até uma ‘irmã’ da Covid-19: epidemias e surtos de doenças contagiosas mexeram na organização de grandes competições. Relembre algumas delas. De máscara, espectadores acompanham a prova de mountain bike do ciclismo nas Olimpíadas de Tóquio em Izu em 26 de julho
Thibault Camus/AP Photo
Os Jogos Olímpicos de Tóquio ocorrem após um ano de adiamento por causa da pandemia de coronavírus. Mesmo com as mudanças de data, a Covid-19 continua a afetar a organização das Olimpíadas: a enorme maioria das competições não tem publico nenhum nas arquibancadas, e o Japão registra recorde nos casos da doença.
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Esta não é a primeira vez em que uma crise de saúde marcou os preparativos de um grande evento esportivo. Alguns eventos esportivos ocorreram mesmo durante outras epidemias, e surtos de doenças infecciosas levaram inclusive à mudança de sede de competições.
Outros exemplos na história são:
Retirada da Copa América no Brasil por causa da Gripe Espanhola (1918)
Desistência de São Paulo em sediar os Jogos Pan-Americanos após surto de meningite (1974)
Adiamento e troca de sede na Copa do Mundo de futebol feminino por causa da SARS (2003)
Olimpíadas de Inverno seguiram adiante mesmo na pandemia de H1N1 (2010)
Preocupação de atletas com a epidemia de zika no Rio de Janeiro (2016)
Saiba mais detalhes sobre esses casos abaixo
Brasil desistiu de Copa América por Gripe Espanhola
Com todos os jogos programados para o Rio de Janeiro, o Brasil tinha sido escolhido sede do Campeonato Sul-Americano de Futebol — rebatizado para Copa América — em 1918. Porém, o país acabou desistindo do evento por causa de outra pandemia mortal que atingiu o mundo 101 anos antes do coronavírus: a Gripe Espanhola, um subtipo do vírus H1N1 que matou mais de 50 milhões de pessoas.
Veja no VÍDEO abaixo: jornais do Rio contam a história da Gripe Espanhola e revelam semelhanças com a pandemia de Covid-19
Jornais do Rio da época da gripe espanhola revelam semelhanças em meio à pandemia de coronavírus
Segundo reportagem da BBC, a decisão das autoridades brasileiras em rejeitar a competição não foi bem vista pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que comandava o futebol naquela época. Sem outra sede, o evento foi adiado para 1919, com jogos no Estádio das Laranjeiras, no Rio. O Brasil venceu o campeonato.
Esse adiamento foi relembrado recentemente, com o anúncio de que o Brasil receberia a Copa América de 2021 — que já havia sido adiada em um ano por causa da Covid-19 — depois da desistência de Argentina e Colômbia. Mesmo com pressões de políticos e patrocinadores, todos os jogos ocorreram como previsto, e apenas a final no Maracanã, vencida pelos argentinos, teve a entrada de público liberada, ainda que em um número muito restrito.
Surto de meningite tirou Pan de São Paulo
Epidemia de meningite nos anos 1970 também sofreu com falta de dados no Brasil
A maior cidade brasileira deveria receber os Jogos Pan-Americanos de 1975. No entanto, o Comitê Olímpico do Brasil e o governo concordaram um ano antes em desistir de organizar a competição em São Paulo. Oficialmente, o motivo seria a grave epidemia de meningite que atingiu a capital paulista e outras partes do país no começo da década de 1970. Saiba mais no VÍDEO acima.
Os primeiros casos da meningite bacteriana começaram em 1971 e se alastraram até que os contágios chegaram a um pico em 1974. Durante muito tempo, a ditadura militar tentou esconder a crise sanitária — os números reais de casos e mortes pela doença são desconhecidos —, mas a situação ficou grave demais. Uma intensa campanha de vacinação começou, com um tipo de injeção semelhante a uma pistola.
Vacinação contra meningite durante a epidemia da década de 1970
Reprodução/TV Globo
Assim, as autoridades brasileiras disseram em 1975 que não haveria mais condições de São Paulo sediar o Pan no ano seguinte, que acabaria transferido para a Cidade do México.
Essa versão, no entanto, é contestada. Embora se reconheça a gravidade da epidemia de meningite em São Paulo nos anos 1970, outra versão diz que a razão para a desistência foi, na verdade, falta de dinheiro — e o governo militar não queria admitir isso.
“Eu me lembro exatamente do dia em que meu avo chegou em Brasília e contou que o ministro da Educação, Ney Braga, disse que as verbas tinham sido cortadas e tinham que suspender o Pan”, relatou ao G1 o advogado Alberto Murray, neto do então presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Sylvio de Magalhães Padilha.
Raia Olímpica da USP com vidro ao fundo
Tahiane Stochero
Segundo ele, embora a versão do governo fosse a epidemia de meningite, o chefe do COB à época nunca escondeu das autoridades a real motivação do cancelamento.
VÍDEO: saiba o que virou notícia na 1ª semana de Olimpíadas
“O pico do surto foi no ano anterior. Naquele momento, estava controlado. A vacinação já estava em andamento, mas a pá de cal nos Jogos nunca foram os casos de meningite”, afirmou Murray, que já presidiu o conselho de ética do COB.
A transferência de sede ocorreu mesmo com algumas das obras do Pan prontas. Entre elas, estão o velódromo da Universidade de São Paulo (USP) e a raia olímpica. “Alguma coisa ficou. O legado ficou para a universidade”, analisa Murray.
SARS adiou Copa Feminina na China
Reforma de antigo hospital em Pequim, na China, usado para atender pacientes com a Sars em 2003, em foto de janeiro de 2020
Peng Ziyang/Xinhua via AP
Em 2003, a epidemia da SARS na China levou a Fifa a cancelar a Copa do Mundo de Futebol Feminino prevista para o país asiático naquele ano. Às pressas, o órgão transferiu a organização do torneio para os Estados Unidos, que havia sediado o evento quatro anos antes.
O causador da SARS é um coronavírus muito semelhante ao da Covid-19. Tanto que o vírus responsável pela pandemia atual se chama SARS-CoV-2. A epidemia da SARS deixou mais de 900 mortos entre 2002 e 2003, segundo dados da OMS.
Segundo comunicado divulgado em maio de 2003, a Fifa ouviu especialistas da OMS para tomar a decisão. Para compensar as autoridades chinesas, a entidade do futebol pagou US$ 1 milhão à China e prometeu que o país organizaria a Copa do Mundo Feminina seguinte, em 2007 — o que acabou se concretizando.
Olimpíadas na pandemia de H1N1
O vírus H1N1, que causou uma pandemia de gripe
reprodução
O mundo ainda estava na pandemia da gripe H1N1 quando Vancouver, no Canadá, sediou os Jogos Olímpicos de Inverno em fevereiro de 2010: a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia apenas meses antes da abertura.
Embora menos severa do que a crise sanitária atual, o H1N1 pode ser bastante letal em crianças muito jovens e idosos. Havia, ainda, a preocupação com a sazonalidade da doença: as autoridades temiam uma explosão de casos da gripe no inverno, justamente nas Olimpíadas de Vancouver.
Assim como tem ocorrido nos preparativos dos Jogos de Tóquio, organizadores e comitês olímpicos dos países participantes correram para garantir vacinas para atletas e voluntários. Hospitais da região de Vancouver ficaram de prontidão caso houvesse algum aumento nos casos de H1N1.
Felizmente, os Jogos de Inverno ocorreram sem maiores problemas relacionados à doença. A OMS declarou o fim da pandemia em agosto de 2010, após deixar dezenas de milhares de mortos. O vírus circula até hoje, em parâmetros não pandêmicos, e há vacinas disponíveis.
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Zika alarmou mundo às vésperas da Rio 2016
Logo dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio ao lado de mensagem sobre o vírus da zika
Ricardo Moraes/Reuters
Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, a zika se tornou uma das razões de preocupação para atletas e comissões técnicas com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Na época, um grupo de cientistas chegou a pedir o adiamento ou o cancelamento dos Jogos Olímpicos.
Além disso, após estudos concluírem que o vírus causava mesmo microcefalia em bebês, autoridades internacionais recomendaram que atletas grávidas não viajassem ao Rio de Janeiro para evitar os riscos da malformação.
Hope Solo postou imagem nas redes sociais com ‘preparação’ para viajar ao Rio
Reprodução/Instagram
Alguns atletas de modalidades como o tênis e o estreante golfe chegaram a desistir de competir nos Jogos do Rio citando medo de infecção. E a goleira da seleção dos Estados Unidos de futebol, Hope Solo, gerou polêmica ao publicar uma foto nas redes sociais em que posava com uma tela protetora, uma máscara e um inseticida.
Mesmo assim, os Jogos Olímpicos do Rio ocorreram normalmente. Além disso, segundo a OMS, nenhum atleta contraiu zika durante o evento.
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Fonte: G1 Mundo